TRUMP JÁ GANHOU!

02-02-2024


A política norte-americana está ao rubro dizem os jornalistas.

Eu discordo!

Antes estivesse!!!

O pior é que a política norte-americana está estagnada.

Senão vejamos:

Do lado democrata Joe Biden, tudo indica, quer-se recandidatar e, sabemos, por tradição, que não há oposição interna (pelo menos explicita e formal) a uma recandidatura de um presidente em exercício. 

Mas Joe Biden tem, atualmente, 81 anos, e não são 81 anos esclarecidos e vigorosos como vemos em alguns dos nossos mais velhos, ainda cheios de vigor e energia!. 

São 81 anos que já mostram alguma senilidade, alguma dificuldade de raciocínio, alguma falta de vigor mental. 

Fisicamente parede bem. 

Mas, ao contrário de outras funções, nesta, a mente é mesmo muito mais importante que o físico.

Afinal, um dos melhores e mais decisivos presidentes de sempre dos Estados Unidos, Roosevelt, que dirigiu o país durante a 2ª guerra mundial, andava de cadeira de rodas…

Outra coisa que me preocupa: o partido democrata não tem mais ninguém que um velhinho de 81 anos para ocupar a Casa Branca?

É que alguém com essa idade, que fez a carreira na política, que sempre andou nos meandros das intrigas de Washington, também não é bom para conquistar o eleitorado, especialmente aquele que, atualmente, elege presidentes!

Jovens, emigrantes, empresários, empreendedores, querem novos políticos e novas políticas, querem alguém com outra mentalidade, com outra postura, que faça outro tipo de ação, com capacidade de lutar com a China em termos comerciais e que encontre um novo posicionamento para os Estados Unidos nesta nova era, nestes novos tempos.

E Biden, no primeiro mandato, embora não tenha governado mal, embora tenha mantido uma política equilibrada, até com algumas coisas boas, não fez nada de novo, nada de inovador, nada que desse, sequer, o vislumbre de uma nova América. 

Cumpriu. 

Nem mal, nem bem. Como homem do seu tempo, adora estabilidades e foi, mais ou menos isso que conseguiu.

Tentou demonstrar algum arrojo e coragem na política externa com a Ucrânia, com o Iémen e com a Faixa de Gaza, mas, "à boa moda" americana, "meteu-se" em 3 impasses que o próprio, agora, não sabe como sair...

Por isso não sei se, de facto, Joe Biden está em condições de vencer Trump nas urnas.

É que da última vez, sem o desgaste de um mandato, ganhou à tangente (51,4% para Biden e uns incríveis 46,9% para Trump) ... agora, depois de um mandato em que não foi brilhante, em que não se conseguiu destacar, nem tão pouco "calar" Trump, sem a vantagem da possibilidade de prometer o que já prometeu e não cumpriu, diria mesmo que Biden vai em desvantagem para esta corrida eleitoral.

A seu favor tem, apenas e só, a antiga tradição americana da reeleição dos presidentes em exercício, mas, vimos nas últimas, nem sempre salva eleições...

Mas, quando digo que Trump já ganhou não é só por isso.

Trump mesmo que perca já ganhou!!!

Alguém que, depois de um mandato desastroso, consegue galvanizar eleitorado para se equacionar a hipótese de ser reeleito; alguém que, 4 anos depois, com dezenas de processos judiciais em cima, ainda vai conseguir uma nomeação republicana para concorrer à Casa Branca; alguém que consegue, ainda, encher pavilhões e ser visto como uma séria ameaça de conquistar o poder é, de facto, um vencedor.

Se for às urnas estou convencido que ganha.

Se não ganhar terá, por certo, uma boa votação, vinda da "América real" dos operários, dos agricultores, dos pequenos empresários que se veem, todos os dias, a perder estatuto, relevância e prosperidade numa América em que não se reconhecem, com que não se identificam e que não lhes dá a devida relevância e atenção. 

Não a América dos pensadores, intelectuais e grandes empresários da Costa Leste e Oeste, mas a América do centro, cada vez mais pobre, mais desigual, mais isolada. 

E Trump será sempre o presidente desses americanos, mesmo que não vença. E por isso será sempre uma voz estridente, incomoda e presente na política americana.

Outra hipótese é Trump não poder concorrer por questões judiciais.

De facto, vários tribunais já sentenciaram a impossibilidade de a candidatura avançar ao condená-lo, pelas mais diversas razões, a não ocupar cargos públicos por diferentes períodos de tempo. Se essa hipótese se efetivar Trump alegará que foi censurado pelo poder, pelo sistema, que não ganhou porque teceram uma "cabala" judicial contra ele. Será perder "na secretaria" o que, na política, nunca é bom.

Assumirá a postura de Mártir o que lhe conferirá o que nunca teve: um ideal!

E se pode "matar" o homem, não se pode "matar" um ideal"!

E porque fica sempre a dúvida... Se fosse a votos venceria ou não?

Se Trump não for a votos o mandato do futuro presidente dos Estados Unidos ficará sempre assombrado por não ser, em pleno, legítimo, porque a legitimidade, em democracia, só se conquista nas urnas, por muito corretas, justas e meritórias que sejam as razões e os fundamentos legais.

E todos sabemos que a política real se faz muito mais de legitimidade do que de legalidade.

E Trump já ganhou porque, não obstante o seu primeiro mandato, não obstante a sua derrota, não obstante tudo, continua a fazer conseguir fazer ouvir a sua voz, a impor a sua presença, a passar a sua mensagem.

Digam o que disserem, pensem o que pensarem, o homem é, de facto, um fenómeno.

Mas, e para terminar, o que me assusta no "fenómeno Trunp" não é o indivíduo.

Noutros lugares, noutras épocas, também já houve outros como ele ou piores do que ele.

Mas foram episódicos, passageiros, passaram, foram e hoje são história.

O que me assusta em Trump é que ele é muito mais do que um indivíduo: é uma nova forma de ser, de estar e de se fazer política. 

Uma política de gritos e não de diálogo, uma política de comícios espetáculo em monólogo e não uma política de debate e confronto de ideias (Trump não irá participar em nenhum debate durante as primárias), uma política de insulto, em que vale tudo, uma política centrada no candidato e não nos programas, centrada em "casos" e não no futuro do país, centrado na conquista do poder pelo poder, e não no poder como serviço.

Uma política baseada na crescente ignorância do povo e não no seu esclarecimento, baseada no populismo e não na realidade, baseada em promessas cada vez mais utópicas em que um eleitorado cada vez mais alheado e manipulado acredita sem questionar, sem raciocinar, sem pensar por si porque foi convencido que não o sabe (e até é perigoso) fazê-lo.

É isso que me assusta em Trump. 

É ele não ser a origem, ser antes o resultado de uma política que se foi degradando ao ponto de ser o antípoda do que devia ser.

Precisamos de uma nova mentalidade política, precisamos que a política seja o que de facto deve ser, precisamos de gente que sirva e não que se sirva, precisamos de ser governados pelos nossos melhores e não pelos nossos mais populares.

Porque senão, Donald Trump será, unicamente, um entre muitos.


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