Ser quem somos

04-08-2023

Cada um de nós é quem é.

Com as nossas virtudes, com os nossos defeitos, com as nossas forças e fraquezas… sempre a tentar melhorar mas, no fundo, somos quem somos.

E é impossível sermos plenos, completos e felizes sem, primeiro, descobrir, afinal, quem é esse "eu" e, depois, o assumir e aceitar em pleno.

Isto vale para cada um de nós enquanto indivíduos, mas também enquanto povo, enquanto cultura, enquanto Nação.

Quando vemos as imagens de como Portugal recebeu Francisco, Bispo de Roma, Sumo Pontífice da Igreja Católica, Apostólica, Romana, temos de aceitar, admitir e assumir que Portugal, enquanto cultura e enquanto país, é profundamente crente, intrinsecamente Cristão e assumidamente Católico. Que não vale a pena a promoção de laicismos modernistas, descrenças democráticas ou materialismos europeístas.

Aceitando a diferença, mas assumindo a nossa identidade; acolhendo a diversidade mas vivendo a nossa natureza, assumamos a nossa fé.

Somos latinos e, ao contrário dos nórdicos, dos germânicos e anglo-saxónicos, temos de acreditar antes de fazer, temos de sentir antes de atuar, temos de sonhar antes de avançar.

Quando foi assim, e só quando foi assim, fomos maiores que os nossos próprios sonhos.

Quando nos assumimos como sonhadores superamos os nossos próprios sonhos.

Aprendamos, no entanto, que, e infelizmente, ser da Igreja não é o mesmo de ser Igreja, que ter fé não é o mesmo que obedecer, que seguir não é o mesmo que não questionar.

Somos Católicos enquanto povo, fiéis a uma mensagem que trespassa a nossa história e a nossa cultura, somos Igreja, que se reúne em volta do seu Pastor quando ele até nós vem.

Francisco não terá tempo de conciliar a Igreja institucional com a Igreja vivencial, a dos crentes, a do povo.

Francisco não verá as cúpulas apostólicas, os radicais e o clero se submeterem (e vão submeter) ao inquestionável princípio que o seu poder é espiritual e não terreno, que a sua riqueza é interior e não material, que a sua autoridade é exemplar e não autoritária, enfim, que "o seu reino não é deste mundo".

Mas, Francisco, sem duvida nenhuma, abriu, e abriu com clareza, transparência e não retorno, um caminho que a Igreja terá que trilhar, uma "via crucis" em que terá de pagar pelos erros de séculos, pelos pecados de décadas, pelos crimes e encobrimentos dos que, chamados à santidade, praticaram a monstruosidade mais abjeta.

Não só nos abusos sexuais (para mim apenas uma das muitas culpas da Igreja Católica), mas também na violência, na descriminação, na xenofobia, no sexismo, no racismo, no sectarismo, na censura da cultura, da ciencia, do conhecimento, numa sede insaciável de poder e de domínio que tudo justificou e a tudo se sobrepôs, até à mensagem do seu fundador.

Mas as grandes caminhadas começam no primeiro passo.

Os primeiros passos estão dados, que se continue a caminhar.

Este peregrino que carrega agora o cajado de Pedro, não terá a graça de terminar a caminhada que iniciou. Mas ficará, para sempre, como aquele que indicou o caminho da Igreja que a conduzirá, simplesmente, a ela própria.

Portugal, os Portugueses, uns mais e outros menos, uns mais ativos que outros, uns mais conscientes que outros, como povo, como cultura, como nação, participarão nessa caminhada, uma caminhada assumindo que somos, quem somos, como somos.

Só assim nos encontraremos enquanto cultura, enquanto povo, enquanto Nação. 


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