MAS, AFINAL, O QUE É FAZER LOBBY ???

21-11-2023


E lá andamos mais uma semana entre demissões, reuniões, denuncias de quem jantou com quem, quem almoçou onde, quem tinha o nome na agenda de beltrano e quem era amigo de sicrano.

E há uma palavra que anda na "boca" de todos, em especial de jornalistas e comentadores e que, parece-me (isto para não ser desagradável e dizer que tenho a certeza) poucos, muito poucos, sabem, o que, de facto, é:

Lobby!

Por isso vão-me desculpar o "mini" tratado, mas, de uma vez por todas, eu que me interesso há já algum tempo por estas questões da ciência política, vou, pelo menos tentar, explicar, afinal, o que é Lobby.

O termo "lobby" refere-se à prática de influenciar decisões políticas, geralmente realizada por grupos, organizações, empresas ou cidadãos com o objetivo de promover os seus interesses específicos.

O lobby pode assumir várias formas, incluindo o contato direto com os políticos, a participação em audiências públicas, a produção de materiais informativos e campanhas de conscientização.

A história do lobbying remonta a tempos muito antigos, mas o termo em si tem origens no século XIX, no Reino Unido.

A palavra "lobby" inicialmente referia-se às áreas de espera em Westminster (os lobbys) onde os cidadãos se podiam reunir (e tenham mesmo esse direito) para conversar com os "comuns" eleitos pelo seu círculo eleitoral.

Com o tempo, o termo passou a ser associado às atividades de influência política em geral.

Ao longo do século XX, o lobbying tornou-se uma parte cada vez mais integral dos processos políticos em muitos países. 

Empresas, organizações não governamentais, sindicatos e outros grupos de interesse começaram a dedicar recursos cada vez maiores para influenciar políticas e decisões governamentais em seu favor.

A má opinião que alguns cidadãos têm sobre o lobby geralmente decorre de várias razões, muitas das quais envolvem preocupações sobre transparência, equidade e a influência desproporcional de interesses particulares no processo político e, obvio, o desconhecimento do que é, de facto, este fenómeno.

Embora o lobby seja uma parte intrínseca dos sistemas políticos democráticos, é essencial abordar estas preocupações para restaurar a confiança pública. 

Tal pode ser alcançado por meio de regulamentações e legislações mais rigorosas, maior transparência nas atividades de lobbying, iniciativas de conscientização pública e esforços para democratizar o acesso ao processo político.

Tudo isto pode ser feito, mas há algo que, sem o qual, nada resulta: assumir, de uma vez por todas, que o lobby existe, que é intrínseco e até natural ao sistema político e que, se devidamente legislado, regulamentado e fiscalizado, é até salutar para a democracia.

O lobbying só é objeto de debates éticos e de imensas controvérsias, quando envolve práticas opacas, corrupção ou influência excessiva de interesses corporativos.

Em reação a estas preocupações, muitos países implementaram regulamentações e legislações para monitorar e controlar as atividades de lobby, procurando garantir a transparência e a integridade no processo político.

Porque, temos de assumir, quando realizado de uma maneira ética e transparente, o lobbying desempenha um papel crucial na dinâmica da vida política, sendo considerado uma faceta legítima e normal do processo democrático. 

Ao oferecer uma plataforma para que diversos setores da sociedade expressem os seus interesses e preocupações, o lobbying contribui significativamente para um processo decisório mais aberto, informado e equilibrado.

Grupos de interesse, sejam eles provenientes do setor empresarial, organizações não governamentais, ou outras entidades, têm, no lobby, a oportunidade de apresentar as suas perspectivas particulares, fornecendo informações especificas sobre os impactos potenciais de determinadas políticas que, de outro modo, o poder legislativo e executivo nunca teriam. 

Essa troca de informações não apenas enriquece o debate público, como também oferece aos decisores uma visão mais abrangente das complexidades envolvidas em questões e assuntos em que tomam parte e mesmo decidem.

Dessa forma, o lobbying, quando exercido de maneira ética, pode fortalecer os alicerces da democracia ao garantir a representação adequada de uma diversidade de interesses na elaboração de políticas públicas.

O lobbying revela-se, assim, uma ferramenta crucial na promoção da equidade e justiça social, especialmente quando adotado por grupos que representam minorias ou causas específicas.

Estes grupos muitas vezes enfrentam grandes dificuldades em fazer ouvir as suas vozes  no âmbito político. O lobbying oferece a esses grupos uma plataforma eficaz para sensibilizar os políticos sobre questões que, de outro modo,  podiam ser marginalizadas ou negligenciadas.

Ao concentrar os seus esforços de lobby em causas específicas, como os direitos das minorias, igualdade de gênero e questões socioambientais, esses grupos têm a capacidade de influenciar diretamente a formulação das políticas. 

Através de uma variedade de estratégias, como reuniões, apresentações e outras formas de contacto direto com os políticos (e sim, pode ser em jantares e almoços desde que se beba "vinho corrente"), essas organizações podem realçar a importância crucial de medidas específicas destinadas a abordar desafios que impactem, de um modo único e muitas vezes desproporcional, suas comunidades.

Desta forma, ao direcionar os seus esforços de lobby de maneira estratégica e informada, grupos que defendem causas específicas não apenas exercem influência significativa sobre a formulação de políticas, mas também contribuem para a construção de sociedades mais justas e equitativas.

A prática do lobbying não apenas proporciona uma plataforma para a expressão de interesses, mas também confere capacidade a grupos minoritários de se organizar de um modo mais eficaz, formando coligações e redes de apoio que desempenham um papel vital na promoção das respetivas causas que, não raras vezes, são complementares ou mesmo similares.

Ao unirem-se em torno de causas comuns, esses grupos conseguem consolidar e dar força às suas vozes, conferindo-lhes uma influência coletiva mais expressiva.

O lobbying, ao trazer à tona questões muitas vezes negligenciadas, assegura que as soluções propostas sejam holísticas e atendam às necessidades específicas de grupos, que de outro modo seriam marginalizados.

Dessa forma, o processo de lobby não é apenas uma ferramenta de influência, mas uma força motriz para a implementação de medidas concretas que beneficiam aqueles que, de outra forma, poderiam ser excluídos do debate político.

No entanto, e é aqui que reside o grande problema desta atividade, a necessidade de conduzir o lobbying de um modo transparente e ético é fundamental para assegurar a integridade do processo democrático.

A transparência desempenha um papel fundamental na construção da confiança pública nesta atividade, permitindo que os cidadãos compreendam quem está influenciando as decisões políticas e com que interesses. 

A divulgação aberta das atividades de lobbying proporciona uma visão clara sobre os atores envolvidos, os recursos mobilizados e os objetivos perseguidos.

A prestação de contas é um pilar igualmente essencial. 

Os grupos de interesse que se envolvem em lobbying devem assumir suas ações e estratégias. 

Isso implica não apenas fornecer informações sobre suas atividades, fundos aplicados e agentes envolvidos, mas também estar preparado para responder a perguntas e críticas construtivas da sociedade e dos órgãos de comunicação social. 

A proibição de práticas de corrupção é uma salvaguarda vital para evitar que o lobbying seja corrompido por interesses ilegítimos. 

Mecanismos robustos para identificar e punir comportamentos antiéticos são essenciais para manter a integridade do sistema. 

Isso inclui evitar subornos, tráfico de influência e outras formas de corrupção que possam comprometer a equidade e a justiça do processo decisório.

A regulamentação e legislação adequada, quando bem elaboradas e implementadas, desempenham um papel crucial na prevenção de excessos e abusos no lobbying. 

Leis claras e fiscalização eficiente são necessárias para garantir que todas as partes envolvidas estejam a operar dentro dos limites éticos estabelecidos. 

Uma legislação eficaz não apenas protege o Estado contra práticas prejudiciais, mas também assegura que o lobbying permanece uma ferramenta construtiva na tomada de decisões políticas, contribuindo para a pluralidade de vozes na esfera pública, fortalecendo a qualidade do processo democrático.

A transparência no lobbying é a chave para garantir que a participação no processo político seja justa e aberta. 

Ao tornar públicas as suas atividades, os grupos de interesse demonstram um compromisso com a honestidade e a responsabilidade. 

Isso não apenas fomenta a confiança da população nos órgãos legislativos, mas também aumenta a qualidade do debate público ao permitir que todos compreendam as diversas influências envolvidas na formulação das políticas.

O respeito pelos princípios democráticos é central para a visão positiva do lobbying. 

Isso implica que, mesmo ao procurar promover interesses específicos, os grupos de lobby reconhecem e respeitam a diversidade de opiniões da sociedade. 

O diálogo e a negociação tornam-se ferramentas cruciais nesse processo, garantindo que a participação no lobby seja construtiva, promovendo o bem comum em vez de interesses exclusivos.

Ao invés de ser visto como um obstáculo à democracia, o lobbying, quando devidamente regulamentado e orientado por princípios éticos, pode fortalecer os fundamentos democráticos, proporcionando um sistema político mais robusto, inclusivo e representativo.

Assim o lobby é tão natural e mesmo salutar ao processo político como a água à natureza e não vale a pena esconder ou negar o que é, por demais, óbvio.

De uma vez por todas os nossos políticos têm de assumir que o lobby existe e devem, de um modo claro e transparente, como em muito países (a maioria) legislar e regulamentar esta atividade.

Porque só assim este pode ser claro, salutar, transparente e verdadeiramente útil para o interesse comum e não só para alguns...

Ou será que é por isso mesmo que não é regulamentado e legislado...?

Fica a questão...