JOGOS OLÍMPICOS: OS JOGOS SEM JOGOS E O DESPORTO DA MESQUINHEZ

08-08-2024

Terminaram mais uns Jogos Olímpicos!

E foi bonita a festa!

Houve coisas boas, outras menos boas, outras até más, como é normal, natural e inevitável num evento que envolve dezenas de milhares de pessoas, desde os atletas até a todo um "universo" necessário para que tudo se torne possível, desde treinadores, médicos, canalizadores, cozinheiros, árbitros, equipas de limpeza, lavandaria… uma verdadeira "Torre de Babel" que se tenta manter estável ao longo de 16 dias.

Milhares de medalhas foram entregues e outros milhares de diplomas olímpicos, coroando e premiando os melhores entre nós, os que atingem o "Olimpo" ao concretizar os ideais de Pierre de Coubertin de "mais rápido, mais alto, mais forte".

Houve vitórias e derrotas, lágrimas de alegria e de tristeza, justiças e injustiças, até que, mais uma vez, a pira olímpica se extinguisse e o reencontro ficou prometido para daqui a 4 anos em Los Angeles.

O que nos ficou de tudo isto?

Para mim (e esta é a minha opinião, que só a mim vincula), ficou uma noção de que foi cometida uma grande injustiça ao desporto, aos atletas e ao ideal olímpico.

Uma injustiça cometida por grande parte da comunicação social, com a cumplicidade ativa e consciente de todo o público que assiste, compra e viabiliza essa comunicação social.

Injustiça, pois pouco se falou de desporto, dos desportistas e dos Jogos em si.

Falou-se na cena que era a última ceia, mas que afinal não era; do beijo do presidente à ministra; do atleta que era mulher, mas depois era homem, mas afinal era mulher; dos vírus no Sena que afinal afetava atletas que não tinham estado no Sena; do atleta que comprou cocaína; do irmão que morreu; da mãe que está viva; daquele que cresceu num orfanato; daquela que fugiu para ver Paris, e tantos, tantos casos e "casinhos", insignificâncias, mundividências, mesquinhices que alimentam um enxame de voyeurs tão ignorantes e alheados que só conseguem consumir dejetos informativos porque de dejetos vivem.

E, como a comunicação social sobrevive (que para muitos já não é viver) de audiências e patrocínios, o dever de informar, de um modo objetivo e imparcial, o público, de instruir, de elucidar, de ser "o quarto poder", de ser uma força dinamizadora, culturizante e civilizadora da sociedade, fica para terceiro, quarto ou mesmo é aniquilado dos critérios editoriais das redações.

Não sei se o problema do conteúdo noticioso é a causa ou a consequência, mas temos de assumir que o fenómeno é muito preocupante e está em crescendo.

É preciso dignificar a comunicação social, é preciso que esta volte a ser a base da consciência social, cultural e democrática, é preciso que recupere a sua essência, a sua natureza, os seus superiores ideais, os seus magnos interesses.

Só assim voltaremos a ter uma sociedade informada, esclarecida, consciente e civilizada.

Deixo aqui o meu enorme agradecimento à fantástica equipa do Canal 2 da RTP que, contra ventos e tempestades, promoveu o desporto e os desportistas numa cobertura soberba, rigorosa, imparcial, objetiva, sendo, igualmente, dinâmica e apelativa.

Afinal, é possível fazer televisão de qualidade e, afinal, ainda há gente que a sabe fazer.

Também um enorme elogio aos canais da Eurosport, que fizeram um trabalho idêntico, embora essa seja a sua especialidade (o que não diminui o seu mérito).

Daqui a 4 anos haverá mais Olimpíadas de Verão, desta vez em Los Angeles, a cidade de Hollywood, do espetáculo, do cinema, da fantasia, do êxtase.

Espero, muito sinceramente, que esse espetáculo seja o desporto, que as estrelas sejam os atletas e que a fantasia se baseie nos ideais olímpicos de uma humanidade mais justa, mais igual, mais fraterna e, fundamentalmente, mais livre!

Espero estar aqui para assistir e permitir que se reacenda em mim, um "fanático" do ideal olímpico, essa chama sagrada que, este ano, quase se extinguiu em mágoa, tristeza e desilusão.



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