FACT CHECK: a única solução

17-01-2025

Nos dias de hoje, há uma preocupação crescente com a possibilidade de gigantes das redes sociais, como a Mega, que controla o Facebook e o Instagram, ou a X, de Elon Musk, retirarem os seus mecanismos de fact-check.

Para muitos, isso seria um atentado à liberdade, uma rendição à desinformação e uma abertura perigosa para todo o tipo de maquinações e teorias da conspiração.

Mas será esta a verdadeira questão?

Confesso que esta ideia de fact-check sempre me levantou muitas dúvidas.

Afinal, quem decide o que é verdade?

Quem recolhe os factos, os organiza e os transforma em informação?

E mais importante ainda, quem tem o poder de determinar o que pode ser dito ou não, o que é correto ou incorreto?

É a velha questão que ecoa há séculos: quem controla os controladores?

A verdade, ou o conceito que temos dela, é complexa e muitas vezes relativa.

Fact-checking, na sua essência, deveria ser uma ferramenta para filtrar a desinformação e trazer maior transparência ao espaço público.

Contudo, não é difícil imaginar como este mecanismo pode tornar-se, ele próprio, uma arma de manipulação.

Quando damos a um grupo de pessoas ou organizações o poder de decidir o que é verdadeiro ou falso, estamos a transferir-lhes uma autoridade perigosa.

Afinal, a verdade não é um facto absoluto.

Depende do contexto, da interpretação e, muitas vezes, dos interesses de quem a comunica.

Por isso, pergunto-me se o verdadeiro problema não está na existência ou ausência de fact-check, mas na falta de uma base mais sólida para discernir entre a verdade e a mentira.

Acredito que só há um método seguro e infalível de "fact-checking": uma população culta, instruída e educada.

Uma população informada sabe distinguir entre factos e fantasias.

Sabe questionar narrativas simplistas, desmontar teorias absurdas e procurar respostas que façam sentido à luz da ciência, da história e do raciocínio lógico.

Quando uma sociedade tem acesso ao conhecimento, não precisa de que lhe digam o que é verdadeiro ou falso, porque é capaz de o descobrir sozinha.

Uma sociedade educada não acredita que a Terra é plana. Não acredita que os vírus têm intenções políticas ou que as vacinas são ferramentas para controlar mentes.

Mentes informadas não caem na armadilha de pensar que comunidades migrantes comem animais de estimação ou que existem conspirações globais secretas em cada esquina.

Pessoas com acesso à educação sabem que pensar criticamente é a única forma de navegar num mundo onde a informação, e também a desinformação, está ao alcance de todos.

O problema com os mecanismos de fact-check não é só quem os controla, mas também o facto de serem um paliativo.

São uma solução de curto prazo que, na melhor das hipóteses, resolve sintomas, mas não a causa da desinformação.

Quando precisamos de sistemas que nos digam em que acreditar, é sinal de que falhámos como civilização.

É sinal de que não confiamos na nossa capacidade de pensar, questionar e decidir por nós próprios.

E isso, para mim, é ainda mais preocupante do que a mentira ou o erro.

Educar é a única forma de proteger as sociedades contra a manipulação, a ignorância e o medo.

Uma população culta sabe como funciona o mundo. Sabe reconhecer padrões de desinformação e desmontar narrativas falsas antes que estas se propaguem.

Quando confiamos na educação, confiamos na capacidade humana de evoluir, de aprender com os erros e de crescer enquanto comunidade global. Investir em educação não é apenas ensinar a ler ou escrever; é ensinar a pensar, a questionar e a procurar respostas baseadas em evidências e não em rumores.

Vivemos num mundo interligado, onde a informação se move mais rápido do que nunca.

Esta rapidez traz oportunidades, mas também perigos.

E embora mecanismos como o fact-check possam ajudar a mitigar algumas consequências da desinformação, não são a solução definitiva.

A longo prazo, depender deles pode até ser contraproducente, ao criar uma sociedade passiva, habituada a receber a verdade em vez de a procurar.

Este caminho pode levar-nos ao precipício de uma ditadura informacional, onde uns poucos decidem o que podemos saber e acreditar.

O verdadeiro combate à desinformação não começa nas redes sociais, mas sim nas salas de aula, nas bibliotecas, nas conversas em família.

Começa quando damos às pessoas ferramentas para pensar criticamente e não apenas para consumir informação.

Começa quando valorizamos a ciência, a história, a literatura e o pensamento humano em todas as suas formas.

Porque só assim conseguimos construir uma sociedade que não precise de um árbitro para decidir o que é verdadeiro ou falso.

Só assim conseguimos proteger a liberdade de pensamento, que é o coração de qualquer democracia.

Quando olhamos para o futuro, o maior desafio não será criar sistemas mais sofisticados de fact-checking, mas sim construir uma humanidade mais culta, mais consciente e mais livre.

Uma humanidade que saiba valorizar a verdade porque entende o seu poder e a sua fragilidade.

Afinal, a verdade não precisa de ser imposta; precisa de ser descoberta, compreendida e partilhada.

E isso só é possível quando apostamos na educação, na cultura e no conhecimento de todos, sem exceção.

Talvez seja isso que nos falta hoje: a coragem de acreditar na capacidade humana de aprender e crescer.

A coragem de investir naquilo que realmente importa e que faz a diferença.

E acima de tudo, a coragem de confiar na verdade como algo que pode e deve ser construído por todos nós, e não imposto por alguns.